Em Chamas veio para consagrar a quadrilogia cinematográfica que será a marca de uma geração. Essa afirmação pode parecer exagerada mas não é arriscada ou infundada. Primeiro, porque o sucesso da saga literária de Suzanne Collins não é uma aposta, é uma constatação. E depois de um bom primeiro filme, que conseguiu agradar tanto os fãs dos livros quanto os críticos, Jogos Vorazes deu um passo à frente mostrando que tem fôlego para ir além.
Depois de desafiar a Capital e sair vencedora dos últimos jogos, Katniss luta contra seus próprios medos enquanto lida com o peso de ser o símbolo de uma revolução. O primeiro acerto do filme foi a incrível adaptação de roteiro. De fato, não existe nada de extrema importância no livro, que tenha sido negligenciado no longa. Um detalhe ou outro, claro, já que são dois instrumentos diferentes para se contar uma mesma história. Mas no geral, o roteiro foi extremamente eficiente ao construir uma narrativa sem deixar de ser fiel ao enredo original.
Já na direção, não existe uma diferença grande entre os estilos de Francis Lawrence e Gary Ross (diretor do primeiro filme). A agilidade continua presente, assim como o uso de big closes e sequências em primeiro plano. Ross exagerou na compulsividade do uso da câmera de mão em Jogos Vorazes, erro devidamente corrigido por Francis Lawrence, que soube se aproveitar da intensidade nos momentos certos, sem abusar da câmera frenética e dos cortes abruptos.
A fotografia é um show a parte. O contraste de cores entre os distritos e a Capital acentua de forma sutil a crítica social e política do filme, que é exatamente o que faz com que essa saga seja tão importante nos dias de hoje. A capital é vibrante, colorida e afortunada. Os distritos são escuros e frios. Na Capital, eles vomitam para que possam comer mais. Nos distritos, as pessoas passam fome. A turnê da vitória deixa bem claro quem são os privilegiados e quem está no comando. Mas também, acende a primeira faísca de esperança para uma revolta que pode virar o jogo.
Jennifer Lawrence foi incrível e convincente, como de costume. A confusão interna e o desespero da protagonista foram muito bem transmitidos, assim como os momentos cômicos ou de ironia que conseguem divertir mesmo nas horas apáticas e frias da personagem. Josh Hutcherson e Liam Hemsworth também dão conta do recado nos papéis de Peeta e Gale, respectivamente. Mas são os coadjuvantes que roubam a cena. Effie Trinket continua impecável com suas manias e trejeitos brilhantemente interpretados por Elizabeth Banks. O presidente Snow de Donald Sutherland é imponente e assustador. Johanna Mason (Jena Malone) e Finnick Odair (Sam Claflin) dão outro tom ao filme. Ambos são extremamente carismáticos e, provavelmente, o mais próximo da descrição literária que eles poderiam chegar como atores.
Jogos Vorazes – Em Chamas é uma crítica social, política e de valores. Um filme com todos os elementos necessários para agradar o grande público e, ainda assim, fazê-lo refletir. O final traz a mesma sensação de vazio e de ansiedade pela sequência que os leitores tiveram ao final do livro. E essa sensação deve durar por um bom tempo, já que A Esperança Parte 1 só chega aos cinemas em novembro do ano que vem. O jeito é respirar fundo e aguardar, porque se a fórmula de Em Chamas for seguida, cada minuto de espera valerá a pena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário